Saudações a todos os parceiros e
visitantes do APN!
É com prazer que na terceira matéria da coluna “Amigos do
Blog” que apresentamos um texto escrito pelo professor Vicente Deocleciano
Moreira, que também é colunista do Blog “Viver as Cidades” e se diz “apaixonado
pelo tema Cidade e pelas cidades de todos os tamanhos e de todos os lugares”. O
texto é um debate inteligente sobre a motivação que leva o ser humano a se
alimentar.
“O CIRCUITO
DO DESEJO NA ALIMENTAÇÃO, NA NUTRIÇÃO E NA DIETA”
O ser humano é o único animal (primata, mamífero e vertebrado
que é) do desejo; os outros são animais da necessidade. Essa peculiaridade do humano
se deve, basicamente, ao fato de ser o único dotado da capacidade de linguagem.
O único que fala – e não apenas comunica (fome. saciedade, alegria, prazer,
tristeza, dor, libido...) como os outros representantes da fauna do planeta
Terra.
Qualquer coisa que um humano fale (com palavras, com olhares,
com sinais) pense ou escreva - seja uma palavra, frase, ou seja, um discurso –
haverá sempre um ‘buraco’, uma ’fenda’, sempre um ‘algo’ a mais dizer. De um
modo geral, se diz que ‘ninguém é perfeito’; e isto é verdade ma medida em que
não existe uma única verdade sobre seja lá o que for; na medida em que sendo
‘imperfeito’, o bicho humano não pode produzir obras ‘perfeitas’... A começar por sua obra prima, primeira, isto
é, a linguagem. Jamais um humano dirá TUDO sobre um minúsculo fio de cabelo.
A falta é que constitui o desejo; a satisfação plena é que
constitui a necessidade. Com o estômago cheio, nenhum outro animal quer mais
comida até que esse órgão se esvazie novamente. O ser humano não quer só comida
ou bebida; ele quer arte, diversão, balé... Mas quando queremos apenas comida
ou bebida, ainda assim a falta de
comida e de bebida – mesmo quando nosso estômago está cheio – faz falta e, assim, remete ao desejo de mais
comida, de mais bebida.
O abstêmio ‘absoluto’, ‘convicto’, deseja não desejar beber nenhum
tipo de bebida alcoólica.
Cena de churrascaria.
Rodízio.
Em uma mesa (mesa 1) uma pessoa faz horas que come toda a
carne que passa e que lhe é oferecida;
já bebeu um litro de Coca Cola.
Se essa pessoa não fosse um ser humano – quer dizer se fosse outro
animal – um décimo do que ele já comeu seria o suficiente para suas
NECESSIDDADES nutricionais. Mas como é um humano, ser do desejo, está ‘com a
barriga cheia’, mas não resiste ao carrinho de sobremesa. Só um pedacinho de
torta de chocolate. Chama o garçom e lhe pede um digestivo e a conta.
Em outra mesa (mesa 2), estranho no ‘ninho’ de uma
churrascaria, está um vegetariano de dieta. Serviu-se de algumas folhas e de poucos
legumes. Recusou – sinal vermelho! – todo e qualquer tipo de carne. Nem olhou
para a sobremesa. Pediu um chá e a conta.
Na mesa 1, a submissão
ao desejo parece mais clara que na outra mesa. Pode ser. Mas na mesa do
vegetariano dominou o desejo de não ter desejo de comer sequer um pedacinho de
carne; Coca Cola, digestivo, torta... Nem pensar!.
O desejo de não desejar é uma força poderosa de desejar. O
Budismo identifica no desejo a ‘perdição’ do ser humano. Não desejar é o que
todos devem buscar. Mas – como estamos falando de seres hiuiamnos (seres do
desejo!), a até mesmo empenhar-se, sacrificar-se, meditar para cessar o desejo
é uma forma de desejar diminuir o desejo. Mesmo na dieta mais rigorosa prevalece
o desejo de ser forte contra as tentações contrárias àquela dieta.
“Vicente Deocleciano Moreira”
http://www.viverascidades.blogspot.com/
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